quarta-feira, 6 de abril de 2011

Falar baixinho (o nasal do cadáver)

Comecei a falar baixinho. Falo o mais baixinho que posso. Pelo menos sempre que me lembro que me comprometi a falar baixinho. A bichanar para não ferir o ouvidinho que ficou bastante danificado desde o dia em que encheste os pulmões para festejar a eleição do novo presidente da Junta. Arruma as cornetas, os tambores e deixa-te de pum-pum-puns.

Chiu! Que ainda acordas as crianças. E sabes que a dormir são anjinhos, mas que ao acordar… Tu bem sabes!

Mau! Até aqui me vêm chatear com o falar baixinho? E o que fazer com a minha mãe que é surda? Coitada da senhora que se eu não gritar não ouve nada… Se não ouve nada é porque é surda, agora se não perceber… Falar baixinho pode ser agradável, romântico, irritante, ofensivo.

Tão irritante que berrou: Ahhhhhhhhhhh, Brrrrrrrrrr, Aiiiiiiiiii. Qual romantismo qual quê. Do que eu gosto mesmo é de berrar, uivar, ladrar… Baixinho.

Mas que vida difícil esta de cadáver. Caluda! Silêncio!

sexta-feira, 25 de março de 2011

Carpideiras (o trapézio do cadáver)



Ai meu querido, que me deixaste viva e foste morrer, logo agora que tens viagem marcada e paga. Vou ver se a troco por um bilhete para o Além… Ai meu querido, que já estavas morto e não sabias… Ai…

Mas bem sentidas as coisas, há que ver que assim mortinho já não sofres (embora desconfie que os calos nos pés eram a tua única dor de alma). Nós agora é que estamos lixados, pois temos de verter lágrimas por ti e não sei porquê elas não querem cair (estou com a profissão por um fio por tua causa, cadáver ranhoso. Cadáver ranhoso).

Ranhoso é pouco. És um reles sem mãe nem pai. O que me pagaram para te chorar nem para uma buchazinha dá. Não dou buchazinha nenhuma. Elas que se alimentem por conta própria e que afoguem as suas lágrimas sozinhas. Vão é chorar daqui a uns dias se o coelhinho subir ao poleiro! Aí sim carpirão as suas mágoas.

Foi de tal forma que as lágrimas encheram as correntes dos rios e subiram os níveis das barragens afastando por mais 100 anos o risco de seca na região. Vem aí uma praga de gafanhotos!

Ai meu querido, que te finaste e agora te vais na barriguita de um saltitão...

quinta-feira, 24 de março de 2011

RRRRRRRRRRRRRRR (o etmóide do cadáver)

Rapaziada, rosa radiosa reinará. Rosadamente regressará rumando regionalmente. Rastejando, os rebeldes revoltosos rangerão rancor reactivo. Redigiu, resmungando, o rol de recomendações e raspanetes que a Rosa referiu como reforço ao relatório.

Relatório ritualizado que foi
rasgado
a roupa respectiva. E repetindo a roda-viva ressuscitaste. Reclamei e resolvi rifar-te.

Rapidamente refeito rondei ruas e ruelas rafeiros e ri-me.
Ri-te, ri-te! Raríssimo e raro o riso.

Repara: o riso rosa raro rodeia-nos. Radiante! Resplandecente! Real! Rico! Recompensador!

quarta-feira, 23 de março de 2011

PEC (o esfenóide do cadáver)

PEC nosso que estais no Parlamento, venha a nós uma solução. Seja feita a vontade do teu povo, assim na Europa como em Portugal. Foi precisamente em Portugal, nomeadamente no Algarve e em Olhão, na Secundária Francisco Fermandes Lopes, que fica para os lados da Biblioteca Municipal, que era um antigo hospital, dizia eu, foi lá que conheci o meu primeiro PEC. Era um colega de turma do 7.º ano que era tão baixinho, tão pequenote, que o apelidaram de PEC. Esse foi o meu primeiro PEC!

Acho que deviam arranjar outra estratégia, pois cada vez temos mais PEC’s e crescimento nem vê-lo. E se experimentássemos pôr fermento? Com ele os bolos ficam XL… Deve ter o mesmo efeito no pedaço de tripa com carne, julgo eu. Ou – esperem! – não estamos a falar do Plano de Encher Chouriço? Então a que PEC é que se referem? Estou baralhada.

Referem-se, certamente, a PECado. Ou a PEC de esPECado. Ou a PEC de PECaminoso. De qualquer forma, referem-se a um plano de estupidez e de calvário.

Abaixo com os «Chuchialistas»! Rosas proibidas! É tempo de uma boa laranjada. E sabem como se faz uma boa laranjada? Espremendo muito bem as laranjas de modo a deixá-las absolutamente em frangalhos.  

segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia Mundial da Árvore (o martelo do cadáver)

Hoje é o Dia Mundial Da Árvore. A minha árvore preferida é a genealógica porque tem ramos parecidos comigo. Claro que estou a falar da minha árvore.

Gostava de descobrir a das patacas! Segundo dizem, estava plantada junto à loja do papagaio amarelo, que todos os dias apregoava, alto e bom som, se caíam ou não patacas. Lá vem mais uma, dizia ele.

Mais uma, mais 10, mais 100, mais 1000, venham milhões para nunca faltar ar puro aos seres vivos. Ou mortos, como eu, cadáver eternamente adiado. Mas hoje é um dia especial e não quero lembrar-me de tristezas (como a vez em que perdi o olho na pesca, quando me inclinei para espreitar o peixe que mordera o isco. Demorei 48 horas a encontrá-lo. Uma dor de vista, bem vos digo). Partilho antes convosco o episódio em que me enamorei do ossinho de pé mais jeitoso do “underground”. Foi em cima de uma oliveira. Pronto, já partilhei. E só por isso (ou também por isso) concordo com o Dia Mundial da Árvore! Oh, yeah.

Espero, contudo, que os animais não amuem por não terem o seu Dia Mundial… Em especial os coelhos, meus parentes homónimos. Olha se os coelhos dão em embirrar com as árvores? Lá se vão as limas, as oliveiras, as silvas e os matinhos…