sexta-feira, 25 de março de 2011

Carpideiras (o trapézio do cadáver)



Ai meu querido, que me deixaste viva e foste morrer, logo agora que tens viagem marcada e paga. Vou ver se a troco por um bilhete para o Além… Ai meu querido, que já estavas morto e não sabias… Ai…

Mas bem sentidas as coisas, há que ver que assim mortinho já não sofres (embora desconfie que os calos nos pés eram a tua única dor de alma). Nós agora é que estamos lixados, pois temos de verter lágrimas por ti e não sei porquê elas não querem cair (estou com a profissão por um fio por tua causa, cadáver ranhoso. Cadáver ranhoso).

Ranhoso é pouco. És um reles sem mãe nem pai. O que me pagaram para te chorar nem para uma buchazinha dá. Não dou buchazinha nenhuma. Elas que se alimentem por conta própria e que afoguem as suas lágrimas sozinhas. Vão é chorar daqui a uns dias se o coelhinho subir ao poleiro! Aí sim carpirão as suas mágoas.

Foi de tal forma que as lágrimas encheram as correntes dos rios e subiram os níveis das barragens afastando por mais 100 anos o risco de seca na região. Vem aí uma praga de gafanhotos!

Ai meu querido, que te finaste e agora te vais na barriguita de um saltitão...

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