quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A coisa (o rádio do cadáver)

A coisa nasceu com nome de coisa, por ser tudo e não ser coisa nenhuma. Quis ser sabor e viu-se morango. Quis ser cantor e viu-se Jacques Brel. Quis ser cor e viu-se azul. Mas todos os dias voltava à indefinição de si mesma… e via-se coisica. Coisa pouca, portanto. Mas não pouca coisa, pois os tempos são de definição em versão alta, que é como quem diz alta definição. Não vos assustaria enfrentar uma «coisa» em HD?

«Claro que não! – respondeu de imediato o aparelho de televisão – Eu cá sou muito moderno, não me assusto por dá cá aquela palha.» Então ficou decidido que a coisa avançaria. O tempo passou e nada. Um dia, sentado na cadeira de baloiço à porta da sua casa, e esquecido já da «coisa», surge-lhe uma visão no horizonte, mesmo no cimo do monte.

Às vezes, à distância, não conseguimos ter a certeza absoluta do que é a realidade. O nosso olhar não consegue distinguir com clareza os objectos, senão a uma distância relativamente curta. Depois tudo o resto se esfuma… E aí fica só ela. Outra vez a coisa coisica que almeja ser tudo por tudo caber nela. Mas um dia terá no BI outra identidade: será um «it» neutro à mesma, mas em inglês soará mais importante. Quem és tu? Sou a «it» portuguesa.

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