quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sonho de uma noite de Inverno (o maxilar do cadáver)

Sonhei com um mundo quase perfeito. Não havia perdas, não havia dor, não havia infelicidade. No fundo, o cadáver até se sentia muito feliz. Fechado no caixão forrado a cetim, estava confortável e passava horas e horas a sonhar.

Acordei depois com os pés gelados, um deles a atirar para o roxo. Esfreguei-o com genica até o sangue cavalgar por ele fora e até recuperar o arzinho corado. É sempre o mindinho, o anão frágil. Foi quase uma aparição! De repente, do nada, surge aquela figura singular. Um anão de nariz pontiagudo, sobrancelhas espessas, olhar feroz, andar curvado. Como todos os anões, tinha um «não sei quê» de frágil, mas ao mesmo tempo de aterrador.

Pior do que sonhar com os nossos medos é ter medo de sonhar. E não é este o sentimento de todo um povo, recusar-se a perseguir o sonho com receio de que se torne pesadelo? É a sina lusa! Lusa ou algarvia. A sina algarvia será sonhar com coisas boas, doces… Praia, cheiro a mar, sol. Sonhos lindos; nunca pesadelos! Porque estes são sonhos com coisas más e estas não fazem parte daquele mundo quase perfeito.

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