quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Um conto (o fémur do cadáver)

Era uma vez um conto de réis que vivia num país de maravilhas à beira-mar plantado. Um belo dia perdeu a cabeça e resolveu fazer uma operação plástica. Cortou nos zeros, dividiu-se por 200 e mudou de nome. Agora chama-se euro. Só que anda muito aborrecido…

Mais perde! Assim terá dois trabalhos: aborrecer-se e deixar de estar aborrecido. Ou seja, tarefas em dobro. E, neste momento de crise, há que poupar-se a esforços inúteis e que não levam a lado algum. Fingir-se de morto sem se mexer. Afinal, é ou não é verdade que burro calado passa por esperto? Mais vos digo que passaria, não fossem as cenouras de conserva que ele comeu ao jantar. Ruminou umas 100 com boca destemida e as ditas aterraram-lhe no estômago que nem tijolos. Baixo a cortina da caridade sobre o resto da cena. Pobre Alfredo…

Sim, pobre Alfredo! Que mais lhe irá acontecer? Quando pensa que as coisas estão a melhorar, lá vem uma onda e deita-o abaixo. Alguém anda com duas estrelas na testa.

Testa grande, diz o povo, significa grande inteligência. Não sei se será bem assim… Aliás, existem outros ditos relacionados com o aspecto físico das pessoas e a sua respectiva compatibilidade com as personalidades. Pêlo na venta significaria pessoa com mau feitio. Nariz arrebitado quereria dizer que se é teimoso. Então, por causa da sua teimosia a senhora Merkl começou a ser impiedosa e resolveu castigá-lo.

Uma chamada ao castigo tem o seu quê de sensual e pode transformar-se numa experiência que marca… Quem não gosta? Eu gosto! Mas é melhor manter essa gaveta de recordações bem fechada a cadeado. E agora? Onde estaria o raio da chave? O Alfredo lançou as narinas no ar e farejou casa fora até sentir o primeiro odor do estranho instrumento de abrir e fechar portas. Escondida no interior da saca de feijões, a chave de três saliências, cor amarela e meio metro de comprimento ia finalmente libertar a última cenoura de conserva a tempo do jantar. Feliz Alfredo…

Grande novidade: o Alfredo encontrou a sua estrela. Finalmente boas notícias começam a acontecer-lhe. O sorriso luminoso voltou à sua face. Como é bom vê-lo feliz! Estar feliz é um estado de alma. Como seria bom que pudéssemos andar felizes diariamente. Mas sabemos que isso é impensável. Há dias em que sem razões aparentes ficamos (ou estamos) profundamente infelizes. Mas o contrário também é real. Às vezes basta acordarmos com um raio de sol ou o canto de um pássaro.

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